segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Duas novidades de Literatura infantil

Enquanto as aulas não começam, há que ocupar com qualidade o lazer das crianças. Das muitas actividades ao dispor dos pais, os livros proporcionam sempre momentos de brincadeira mágica, desenvoltura psicossocial e gáudio sempre novo, com a mais-valia de fundarem cumplicidades geracionais, devido à experiência partilhada entre crianças e adultos.

Os que têm a seu cargo crianças – e que seguem há alguns anos as minhas propostas de Literatura infantil, com comprovada atenção – sabem ao que me refiro; aos que estão mais distantes do convívio com miúdos e, por isso, menos alentos à literatura infantil, lanço o desafio: detenham-se, mesmo que de vez em quando, nestes livros e reencontram formas inauditas de afecto, aventura, surpresa e encantamento há muito perdidos.

O livro «A Minha Mãe» de Anthony Browne e «Elmer e o Passarão» de David McKee são duas novidades de Literatura infantil traduzida, editadas pela Caminho. Vocacionados para leitores iniciais, são dois projectos estéticos e narrativos bem distintos que em comum carregam o zelo e a alegria na transmissão de lições de vida.

O livro «A Minha Mãe» contém grandes Ilustrações – na dimensão, e na força pictórica – acompanhadas de frases curtas, tipo legenda. Página a página, imagens e texto vão dando forma a uma narrativa sobre a mulher e mãe da sociedade actual: o carácter multifacetado da mulher empresária e dona de casa, uma «Malabarista brilhante» do dia-a-dia que não se esquece do tempo do afecto aos filhos.

Inventivas, as ilustrações apresentam esta mãe na intimidade do lar, com um roupão florido donde sobressaem corações rubros, pois é desse espaço, alicerce da união, que surge a narração pelo filho ou filha, que a retrata com olhar atento, reconhecimento e admiração desmedidos: ela é a «cozinheira fantástica», «a mulher MAIS FORTE do mundo», «rija como um rinoceronte», a «jardineira mágica» que «consegue fazer crescer TUDO», uma «SUPERMÃE» que podia ser bailarina, astronauta ou estrela de cinema. Omnipresente, o padrão florido e festivo do roupão fortalece a dádiva maternal – o roupão transforma-se numa confortável poltrona – e fortalece jubilosamente a mensagem do amor correspondido, mesmo quando a mãe ruge «como um leão».
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«Elmer e o Passarão» é uma fábula e marca o regresso do famoso elefante dos quadrados coloridos e dos seus amigos – uma saga de sucesso que já vai em cerca de uma dezena de títulos. No movimento narrativo, uma vez mais, as aventuras e o ardil ao serviço da resolução de problemas. Há que enfrentar um passarão, que surge na comunidade dos animais disposto a ditar regras e a apoucar os pequenos pássaros, um fiel representante dos indivíduos narcísicos e arrogantes que os miúdos irão, seguramente, encontrar ao longo da vida. Elmer tem, então, a ideia da qual nasce um plano que se põe em prática: chamar um «pássaro mesmo grande a sério» para se aferir do ego despótico do passarão. O pássaro de respeitosas dimensões que surge no céu e que faz zarpar o passarão é, afinal, um pássaro desenhado com todos os passarinhos. Temos, assim, uma história diferente ao serviço de uma máxima antiga e infalível: A união faz a força.
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As ilustrações, como em toda a série do Elmer, são de cores fortes, vibrantes e alegres, repletas de animais expressivos, incentivam a imaginação das crianças que, seguramente, tecerá muitas outras narrativas… Para comprovar.
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© Teresa Sá Couto

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