domingo, 30 de agosto de 2009

Escritos de Kleist

Atenção a este título: Sobre o Teatro de Marionetas e Outros Escritos de Heinrich von Kleist é uma jóia editorial que queremos ter bem ao pé da mão e ir saboreando devagar. Editado recentemente pela Antígona, o volume de 158 páginas reúne 16 textos curtos (entre os quais o que dá título ao tomo) escritos entre 1799 e 1811, de temática filosófica onde é claro o comprometimento do autor com a sua época, denunciando com ironia o Teatro de Marionetas - ou o palco da existência onde todos somos mais ou menos títeres – onde desfilam «fraquezas, imperfeições, falsidades e hipocrisias» que geram o «sentimento de miséria».

Escritor incontornável do romantismo alemão, a par de Goethe, Schiller e Novalis, ainda que injustamente menos falado, Heinrich von Kleist (1777-1811) foi nome de topo da dramaturgia alemã, sendo considerado o precursor do teatro moderno.

A presente obra é, por todas as razões, motivo de júbilo, acrescido pela superior tradução, e estudo inicial, de José Miranda Justo. Mais um livro com que a Antígona celebra o seu 30º aniversário, e registe-se que a Antígona sabe celebrar-se em cada livro que edita.

Deixo uns extractos desta minha actual leitura:

Sobre a gradual elaboração dos pensamentos no discurso

«Quando queres saber certa coisa e não encontras resposta por via da meditação, aconselho-te, meu querido e arguto amigo, que fales sobre o assunto com o primeiro conhecido que encontres. Não precisa de ser propriamente um espírito perspicaz, aliás o que digo também não significa que hajas de o interrogar para obteres a resposta: não! Pelo contrário, antes de mais deverás contar-lhe o que te preocupa. Vejo-te já a abrires muito os olhos e a responderes-me que em anos mais recuados te deram o conselho de não falares senão sobre coisas que entendesses. Nesse tempo, porém, falavas provavelmente com o intuito de ensinar coisas aos outros, enquanto aquilo que pretendo é que fales com a sensata intenção de te instruíres a ti mesmo; sendo assim, tratando diferentemente o que é diferente, talvez as duas regras de bom senso possam coexistir sem embaraço. Os Franceses dizem: l’ appétit vient em mangeant; este princípio derivado da experiencia permanece verdadeiro se o parafrasearmos dizendo: l’ idée vient en parlant. (…)» p.p.71, 72


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A Fábula sem moral

«Pudesse eu ter-te, dizia o homem a um cavalo que estava á sua frente devidamente selado e arreado, mas que não queria deixar-se montar; pudesse eu ter-te tal como em tempos saíste das florestas, em bruto, simples filho da natureza! Conduzir-te-ia, ligeiro como uma ave, por montes e vales, como me aprouvesse; bem nos sentiríamos, tu e eu. Mas ensinaram-te artifícios dos quais eu, desprovido como estou perante ti, nada sei; e ser-me-ia preciso entrar contigo no picadeiro (livre-me Deus de tal coisa) se quiséssemos entender-nos.» p.86

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Um princípio da crítica superior

«É preciso mais génio para apreciar uma obra de arte mediana do que para apreciar uma que seja excelente. A beleza e a verdade evidenciam-se à natureza humana em primeiríssima instância; e tal como os princípios mais sublimes são os mais fáceis de entender (só a minúcia é difícil de captar), também o belo agrada com facilidade; só o que é deficiente e afectado precisa de esforço para ser saboreado. (…)» p.151

4 comentários:

Claudia Sousa Dias disse...

bom estar a par...

nunca tinha ouvido falar dele.


:-)


beijo grande


csd

Teresa disse...

Grande autor, Cláudia ;)

Beijo grande
T.

James disse...

Parabéns pelo blog!
Candidatei-me a seguidor :)
bjo

Teresa disse...

e agora "O Voo da Águia" consta na barra lateral esquerda deste sítio, em "Outros lugares obrigatórios". ;)

bjo
T.